Orientações complementares sobre os cursos


Ficha de Leitura


A Ficha de Leitura é uma ferramenta didática que não substitui ou se confunde com o resumo ou a resenha. Ela  consistem em um roteiro padrão para o registro breve, em tópicos, de aspectos centrais de um texto academico em Ciências Sociais. Seu principal objetivo é treinar a leitura sistemática e, por extensão, também a redação, por meio da identificação dos elementos centrais na organização de um texto acadêmico. É parcialmente com base nelas que serão realizadas as discussões sobre a bibliografia em sala. Seguem abaixo os itens que compoem uma Ficha de Leitura. 

Mas, atenção: assim como a escrita acadêmica se diferencia de outras modalidades de escrita, no interior da escrita acadêmica há variações importantes segundo os diferentes campos científicos e, mesmo no interior das Humanidades ou das Ciências Sociais, há diferenças significativas entre os modos mais comuns de redção em cada campo disciplinar. Estamos diante de algo semelhante à lógica segmentar descrita por Evans-Pritchard para a organização política e de identidade Nuer.
Finalmente, os autores podem ter estilos e modos de estruturação de texto muito particulares, assim como mesmo um mesmo autor pode variar na organização da sua escrita em função dos objetivos ou do público de cada texto. 
Assim, a presença ou ausência de cada um dos itens que compoem a Ficha de Leitua proposta abaixo dependerá dessas sucessivas variações concêntricas ou situacionais. Reconhecer e compreender a pertinência de cada um um dos itens abaixo na descrição do texto que está sendo lido é parte do exercício de leitura. 



(I) Elementos descritivos:


(1) Objeto teórico ou analítico:

Formulação mais ampla e abstrata de um problema ou de uma hipótese, ou seja uma proposta de leitura da realidade que transcende as situações empíricas abordadas no texto. Um objeto teórico ou analítico tem por referência debates bibliográficos ou teóricos mais amplos, para os quais o material ou a reflexão do texto em particular vem contribuir cumulativa ou criticamente;

(2) Objetivos:

Aquilo que o próprio autor apresenta como intenção principal do texto. Eventualmente o objetivo pode ser simplesmente a explicitação do objeto teórico ou analítico, mas também pode acontecer que o texto tenha objetivos secundários ou subsidiários, o que exige do leitor a capacidade de discrimina-los e hierarquiza-los;

(3) Empiria ou fontes: 

Todo material bibliográfico, de observação direta ou documental que é matéria de análise para a demonstração de uma tese ou teste de uma hipótese teórica ou analítica. Aquei será necessário distinguir entre a bibliografia que serve de empiria e fonte daquela que serve de referência ou apoio teórico-metodológico-analítico. Importa neste item descrever os tipos de materiais utilizados (e não citar individualmente todos eles), tendo em vista apreender o modo pelo qual a empiria é incorporada nos debates teóricos;

(4) Estrutura de argumentação:

Todo texto deve escolher o modo ou o caminho pelo qual apresenta o seu problema e seus referentes empíricos, organiza seus argumentos, enfrenta os debates relativos a eles, retira e expõe suas conclusões. Tal escolha implica em uma narrativa ou estrutura de argumentação. É com base nela que o leitor é levado a partir de uma pergunta, observação ou uma cena (muito comum nos textos etnográficos) para acompanhar o autor ao longo de descrições, debates ou reflexões até chegar a uma conclusão. Observar tal estrutura permite que o leitor distinga argumentos, fatos, teorias e textos centrais de outros periféricos ou apenas subsidiários. Apreender essas estruturas acaba por funcionar como um segundo nível de aprendizado: além do conteúdo específico a que o texto se dedica, aprende-se também a forma de fazer isso - o que já não está no campo dos conteúdos, mas das habilidades. É com base na observação sistemática dessas difentes formas de estruturar argumentos que o leitor pode acumular um repertório de estruturas argumentativas que lhe será útil quando se posicionar como autor dos seus próprios textos.

(5) Conclusões:

Sentença sintética que resulta do texto e que tem relação direta com os seus objetivos, seu objeto e suas fontes. Atenção: as conclusões não estão necessariamente ao final dos textos. Alguns autores preferem apresenta-las no início ou preferem montar o texto como crescendo de conclusões parciais, outros não apresentam conclusções explícitas, deixando isso a cargo do leitor etc.

(II) Questões analíticas:


(6) Conceitos centrais: 

Categorias ou expressões às quais o texto atribui sentidos precisos e especializados (em geral diferentes daqueles dicionarizados) e que desempenham papel central na definição de seus objetivos, do seu objeto ou de sua análise. Neste tópico o leitor não deve fazer a lista dos conceitos usados no texto (afinal, um texto acadêmico em geral usa muitos conceitos), mas hierarquizá-los para identificar o(s) central(is).

(7) Diálogos e debates: 

Textos, autores, escolas ou linhas teóricas apontadas pelo autor como importantes na construção de sua análise, seja por afiliação ou por distinção e crítica. Da mesma forma que no item anterior, não se trata de fazer a lista de todos os autores ou correntes teóricas citadas, mas discriminar e hierarquizar aquelas/es que foram eleitos pelo autor como importantes na construção do seu objeto, das suas hipóteses, da sua análise ou das suas conclusões;

(8)  Síntese pessoal, incluindo dúvidas e conexões para além do texto: 

Este é o espaço destinado às manifestações mais pessoais do leitor: suas opiniões, dúvidas, discordâncias, aproximações e contrastes com outros textos, livre associações etc., sempre no sentido de permitir ou estimularo aluno a se apropriar do texto lido – de preferência tendo por referência o contexto interpretativo da disciplina ou do curso de forma mais ampla.



Ética Acadêmica

O estudante deve saber portar-se adequadamente em sala, com relação aos objetivos da Universidade, do seu curso*, assim como em respeito pessoal e intelectual ao professor e aos seus colegas de turma. O respeito intelectual não exclui divergência e discordância de qualquer tipo, mas, pelo contrário, as supõe. Assim, a prática do debate aberto, mas respeitoso às posições, aos limites e ao tempo dos demais colegas e do professor é fundamental. 
Tal respeito exclui o uso da sala de aula para práticas alheias ou incompatíveis com esta troca respaitosa, como ler de jornal, comunicar-se por celular, ouvir música etc. Para isso as aulas terão intervalos. A pontualidade e a frequência também fazem parte deste respeito, se atentarmos para o fato de a disciplina em geral e a aula em particular estarem mais próximos de uma narrativa cumulativa do que de um evento de fruição rápida e fragmentária. 

Finalmente, tal respeito se aplica também ao uso de ideias e textos na elaborações de testes e trabalhos, o que exclui a prática do plágio, ou seja, “a utilização de ideias ou formulações verbais, orais ou escritas de outrem sem dar-lhe por elas, expressa e claramente, o devido crédito, de modo a gerar razoavelmente a percepção de que sejam ideias ou formulações de autoria própria”**. O plágio é considerado falta gravíssima, implicando a atribuição de nota Zero na atividade em que for identificado.

________________________________________________________________


(*) Leiam (e discutam) o Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Ciências Sociais, disponível em: http://www.ifch.unicamp.br/pf-ifch/public-files/graduacao/projeto-pedagogico-ciencias-sociais.pdf
(**) Código de Boas Práticas Científicas. FAPESP, 2014. Disponível em: http://www.fapesp.br/boaspraticas/FAPESP-Codigo_de_Boas_Praticas_Cientificas_2014.pdf)

Nenhum comentário:

Postar um comentário