sábado, 16 de dezembro de 2017

Grupo de Estudo 'Os Pankararu na metrópole: Antropologia e Saúde'


  • O grupo
  • Objetivos
  • justificativa
  • Contexto
  • Cronograma




O grupo


Este grupo de estudos foi criado em dezembro de 2017 em uma parceria entre a Associação Indígena SOS Pankararu, a equipe de saúde da UBS - Unidade Básica de Saúde Real Parque (bairro Morumbi, São Paulo) e pesquisadores do  CPEI da UNICAMP (Linha de Pesquisa 'Territórios indígenas: territorialidades, territorializações, sobreposições e urbanidades') em reuniões mensais no Real Parque. Seu objetivo é compartilhar experiências no campo da prática da Saúde Indígena e discutir trabalhos de pesquisa já finalizados ou em curso.

Objetivos

Os objetivos deste projeto podem ser descritos de duas formas.

Ele objetiva a “devolução” do conhecimento produzido na universidade sobre os pankararu para os próprios pankararu residentes na região metropolitana de São Paulo, tanto quanto abrir uma dimensão compartilhada com eles da produção de conhecimento sobre a relação entre conhecimentos biomédicos e tradicionais indígenas.

Ele também objetiva colocar os acúmulos da pesquisa acadêmica a serviço do aperfeiçoamento das políticas públicas para a população indígena em geral, por meio da reflexão sobre o funcionamento de uma instituição particular, a  Unidade Básica de Saúde do Real Parque, em colaboração com os seus principais atores: as Agentes de Saúde Indígena, a equipe médica da UBS e o corpo de estagiários dos campos da medicina, da enfermagem e da psicologia em residência ou estágio nesta UBS. 

Isso vem sendo feito por meio da leitura conjunta dos resultados de pesquisas acadêmcias, mas estão previstos desdobramentos desta ação na forma de seminários e cursos abertos à comunidade.

Justificativa

Essa ação extensionista é desenvolvida em apoio à reflexão sobre o campo da saúde pública aplicada às populações indígenas, mas que incide de forma mais geral sobre a variedade de questões que hoje envolve o atendimento de uma população urbana culturalmente muito diversificada pelas migrações internas e externas. Sua importância e impacto podem ser estimados pelas informações disponíveis sobre o crescimento da presença indígena nas cidades brasileiras em geral, tanto quanto em São Paulo e Campinas em particular. O Censo do IBGE 2010 apontou que metade da população indígena brasileira (que triplicou nas últimas três décadas) atualmente vive em cidades (Conferir matéria que afirma: “Os mais de 240 povos indígenas somam, segundo o Censo IBGE 2010, 896.917 pessoas. Destes, 324.834 vivem em cidades”. (disponível em: LINK).

No Estado de São Paulo, a população indígena residente em áreas urbanas era de 37.915 pessoas (91% da população indígena total do estado), de forma que o município de São Paulo, com 12.977 índios, ocupava o 4º lugar no ranking nacional de cidades com maior população indígena. No mesmo ranking do IBGE 2010, Campinas aparecia como a 8a. capital com maior população indígena do Sudeste, com  1.043 indígenas residentes. Mas a estimativa do movimento social de Campinas sobre a presença indígena total (incluindo os que não se declaram residentes, por se pensarem em “trânsito”) na sua região metropolitana em 2018 é de cerca de oito mil indígenas (Conferir matéria que afirma: “São mais de 8 mil indígenas vivendo em Campinas. É o terceiro município do Estado com maior população indígena vivendo em cidades. É impossível a gente não olhar a população indígena entre as diversas etnias que estão na cidade”. (disponível em LINK).

Este projeto parte da ideia de que o conhecimento gerado pelas instituições de pesquisa deve possuir uma intenção de transformação da realidade social, intervindo positivamente em processos sociais que podem ser aperfeiçoados ou na simetrização de relações de poder e conhecimento histórica, social e culturalmente marcadas pela desigualdade. No nosso caso, em especial, isso diz respeito não só à “devolução” de um conhecimento produzido na universidade, mas também à abertura de uma dimensão compartilhada deste processo de produção de conhecimento. Atuamos, portanto, na mediação que as ciências sociais podem oferecer à relação, em geral e em princípio, conflituosa entre crenças e conhecimentos biomédicos e crenças e conhecimentos tradicionais indígenas, por meio da observação e do diálogo orientado pelos acúmulos realizados no campo da Antropologia.

Contexto do projeto

Este projeto de extensão (em processo de institucionalização) está vinculado ao projeto do proponente contemplado com a Bolsa de Pesquisa Produtividade do CNPq, intitulado “Fluxos indígenas entre sertão e metrópole: Estudo sobre território e população, cosmopolítica e mobilidade pankararu”. O objetivo geral deste projeto é aprofundar o conhecimento nas áreas da Etnologia e da História Indígena e do Indigenismo, consolidando hipóteses e avançando na investigação teórica sobre o fenômeno, de importância continental, da migração ou mobilidade indígena para as grandes cidades e as transformações cosmológicas, organizacionais e identitárias nele implicadas. Tal projeto tem por foco específico a população indígena das regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas, dando especial atenção ao grupo étnico mais populoso neste contexto, os Pankararu. Esta pesquisa desdobra dois projetos de pesquisas desenvolvidos nos últimos cinco anos e recém-encerrados:
  • Povos Indígenas na Metrópole - Indianidade, Urbanidade e Reflexividade Cultural - Edital Universal do CNPQ (2012-2017), do qual sou o pesquisador titular
  • Mobilidade dos Povos Indígenas em São Paulo - projeto sob minha responsabilidade e de Marta Maria do Amaral Azevedo, desenvolvido como um dos módulos do projeto FAPESP (Projeto Temático Segunda Fase: 2014-2018)Observatório das Migrações em São Paulo: Migrações Internas e Internacionais Contemporâneas”, coordenado pela Profa. Dra. Rosana Baeninger (NEPO / UNICAMP)
No ambito dessas pesquisas foram elaboradas atividades de pesquisa quantitativa e qualitativa, sempre a partir de uma metodologia participativa.

O Censo Étnico Colaborativo Pankararu (2016-2017), implicou na realização de encontros com os moradores pankararu do Real Parque destinados à discussão dos objetivos e dos instrumentos da pesquisa, assim como à formação e treinamento das nove colaboradoras indígenas que nos auxiliariam a aplicar os questionários do censo entre a totalidade das famílias do bairro ao longo de três meses entre 2016 e 2017. Esses questionários, relativamente extensos (12 páginas com mais de 50 perguntas) registraram 188 famílias e quase 700 pessoas, contando com intensa colaboração das agentes de Saúde Indígena, que participaram da equipe.


No campo da observação direta, de caráter etnográfico, temos privilegiado a reflexão sobre as conquistas do grupo nos campos das políticas de Educação e de Saúde, e o modo pelo qual nelas é possível apreender a mediação entre formas tradicionais e urbanas de organizar o mundo e a própria sociedade. No campo da Saúde, que diz respeito diretamente a este projeto de extensão, temos nos concentrado nas práticas de diagnose e cura pankararu, assim como o modo pelo qual tais práticas os pankararu interagem com as concepções biomédicas de diagnose e cura.

Foi desta participação das Agentes de Saúde Indígena no trabalho de organização do censo e deste interesse etnográfico que surgiu a aproximação com a equipe de saúde do Programa Saúde da Família Indígena, da Unidade Básica de Saúde do Real Parque, sob a coordenação de Marcos Santos (equipe médica) e Juliana Fidelis (equipe de enfermagem). Seguindo o mesmo espírito interdisciplinar e colaborativo que orienta a pesquisa, desse contato resultou a sugestão de agregar uma dimensão extensionista à nossa pesquisa acadêmica, voltada ao compartilhamento e debate dos dados do Censo Étnico Colaborativo e à constituição de um grupo de estudos da bibliografia sobre os Pankararu, sobre Saúde Indígena e sobre Antropologia Médica.
  • Para mais informações sobre o contexto de pesquisa desta atividade, clique aqui.
  • Para uma breve introdução aos Pankararu e sua bibliografia, clique aqui.

Cronograma
OBS: A participação nesta atividade está aberta ao público em geral, mas os organiadores pedem que os interessdos agendem a primeira participação.
Agenda do 1o. semestre de 2018:
  • Fevereiro, 22 - Discussão do TCC de Amanda Mayumi Matsuyama, "Reflexões sobre temporalidade, sintonização e intermedicalidade na saúde da comunidade Pankararu no Real Parque" (Psicologia, USP, 2018), com a autora.
  • Março, 22 - Discussão da Dissertação de mestrado de Juliana Gonçalves Fidelis, "Integralidade e indígenas urbanos: análise dos relatos de profissionais e usuários de uma unidade básica de saúde no município de São Paulo" (Estudos Culturais, Unifesp, 2014), com a autora.
  • Abril, 26 - Discussão da Dissertação de mestrado de Rafael Lopes, "Cura Encantada: Medicina Tradicional e Biomedicina entre os Pankararu do Real Parque em São Paulo" (Enfermagem, USP, 2011), com o autor.
  • Junho, 29 - Discussão dos pontos acumulados nas leituras anteriores e planejamento do segundo semestre.

Agenda do 2o. semestre de 2018:
  • Agosto, 10 - Discussão da Dissertação de mestrado de Arianne Rayis Lovo, “ 'Lá, sendo o lugar deles, é também o meu lugar': pessoa, memória e mobilidade entre os Pankararu" (Antropologia, UNICAMP, 2017).
  • Setembro, 14 - Discussão da Dissertação de mestrado de Karine Assumpção, "NEGOCIANDO CURAS: um estudo das relações entre indígenas e profissionais do Projeto Xingu" (Antropologia, UNIFESP, 2014)
  • Dezembro, 07Discussão dos pontos acumulados nas leituras anteriores.

Agenda do 1o. semestre de 2019:
  • Fevereiro, 15 - Discussão sobre Território e mobilidade pnakararu entre sertão e São Paulo. Texto de apoio:
ARRUTI (no prelo) "Outras Terras Baixas: cosmopolítica e afirmação étnica pankararu entre o sertão e a metrópole", 44 p.
  • Abril, 05 - Discussão sobre o uso de plantas e animais na medicina tradicoonal dos pankararu de Pernambuco. Textos de apoio:
DARIO. Uso de plantas da caatinga pelo povo indígena pankararu no estado de Pernambuco, Brasil. GEOTemas, Rio Grande do Norte, v. 8, n. 1, p. 60-76. Disponível em: http://periodicos.uern.br/index.php/geotemas/article/view/3004

LIMA e SANTOS, 2010. Recursos animais utilizados na medicina tradicional dos índios pankararu no nordeste do estado de Pernambuco, brasil. Etnobiología, v. 8: 39-50. Disponível em: http://asociacionetnobiologica.org.mx/revista/index.php/etno/article/view/132

SANTOS e LIMA. 2017. A Zooterapia do povo indígena Pankararú no Semiárido Pernambucano.
Juazeiro: SABEH, 94 p. Disponível em: http://sabeh.org.br/?mbdb_book=a-zooterapia-do-povo-indigena-pankararu-no-semiarido-pernambucano
  • Abril, 26 - Palestra "Histórias Pankraru", ministrada por J. M. Arruti para a equipe ampliada da Unidade Básica de Saúde do Real Parque, aberta aos moradores em geral.
  • Maio, 17 - Discussão sobre o parto tradicional pankararu. Texos de apoio:
ATHIAS. 2002. Espaço, Fecundidade e Reprodução entre os Pankararu. XIII REBEP, 23 p. Disponível em: http://www.abep.org.br/publicacoes/index.php/anais/article/view/1238

CRUZ RAMOS. 2016. Cuerpo y reproducción entre los Pankararu de Pernambuco, Brasil Anales de Antropología 50 (2016) 75–95. Disponível em: www.revistas.unam.mx/index.php/antropologia

GIBERTI. 2013. Nascendo, Encantando e Cuidando –
uma etnografia do Processo de Nascimento nos Pankararu de Pernambuco. Dissertação de Mestrado PPG em Saúde Pública, USP, 196 p. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6136/tde-10102013-011036/pt-br.php
  • Junho, 05 - "Workshop Antropologia, Saúde & Religião"Encontro a se realizar excepcionalmente na UNICAMP, com a participação de pesquisadores do PPGAS e FCA - Faculdade de Ciências Médicas
EMENTA: Este workshop tem por objetivo abrir um espaço de diálogo na UNICAMP entre pesquisas que realizem uma aproximação entre Antropologia, Saúde e o campo de interseção coberto pelas noções de “religião”, “espiritualidade”, “xamanismo” ou “tradicionalidade”.
Propomos dar inicio a este espaço por meio de um encontro e trabalho entre pesquisas do PPGAS e convidados, dedicado a refletir sobre os modos de interação, conflito e diálogo, reconhecimento e regulação, apropriação e síntese, existentes em diferentes contextos, entre as práticas, saberes e concepções biomédicos e tradicionais-religiosas relativas à conceptualização do corpo, da saúde-doença e suas terapêuticas.
Se as análises sobre as concepções ameríndias ou populares de pessoa, saúde, doença são numerosas e conhecidas, as análises dos processos de atenção diferenciada e intermedicalidade (Langdon & Garnelo [org.] 2004) são menos comuns, assim como o processo de incorporação da noção de espiritualidade em organismos oficiais globais, tal como a OMS (Toniol, 2017). Aparentemente, a perspectiva das “medicinais tradicionais”, ou da Antropologia feita a partir delas, impactou sobre o campo convencional da Saúde, de forma que a “perspectiva biomédica”, comum e genericamente caracterizada como universalista, biologista e a-histórica (LANGDON, 2014) começou a incorporar o entendimento de que as noções de “corpo”, “saúde” ou “doença” conformam uma experiência sociocultural, o que tem tido impacto sobre suas próprias concepções e práticas. Surge então um espaço (ou interstício) de simetrização entre as práticas tradicionais e oficiais, através do qual é possível ver praticantes tradicionais demandando a complementariedade da biomedicina, tanto quanto os médicos começam a demandar dos religiosos, xamãs, pajés, rezadores. Este espaço ou interstício de simetrização nos parece ser um ângulo novo desde o qual olhar para essas relações estruturalmente conflituosas.
O indicativo de data é a segunda quinzena de Maio, durante uma tarde-noite, seguindo a seguinte dinâmica: entrega prévia (10 dias) de um resumo estendido de suas pesquisas (2.000 palavras), de forma a que no dia do encontro cada um possa fazer uma breve apresentação de 20 minutos seguida de rodadas de comentários sobre as aproximações e contrastes empíricos, teóricos e metodológicos entre elas.

🔄atualização: 10.ago.18

Nenhum comentário:

Postar um comentário