quinta-feira, 28 de março de 2013

John Manuel Monteiro (1956-2013)

Não fui orientando do John, nem nunca tive aulas com ele. Em princípio, não faço parte da “linhagem” – nas suas próprias palavras – que ele vinha criando na UNICAMP, cuja marca é uma abordagem histórica e política da etnologia, indígena e outras. Apesar disso, e da sua insistência em me tratar como um igual, sinto com relação a ele o tipo de dívida amorosa que se estabelece com os mestres.
Foi dele o meu primeiro convite para participar em um GT da ANPOCS, assim como foi dele o meu primeiro convite para uma banca de doutorado. Ele foi um leitor generoso em minha banca de doutorado e fez um prefácio ainda mais generoso para o livro que resultou dela. Em pouco tempo a sua erudição - por vezes surpreendente -, a sua capacidade de olhar para além dos limites disciplinares, o seu modo franco e transparente de se posicionar politicamente, assim como a sua capacidade de circular pelos mais diversos grupos – acadêmicos ou não – foram definindo para mim um modelo desejável de intelectual.
No último ano, porém, nos transformamos em colegas de departamento e, imediatamente a seguir, em parceiros. Muitos projetos brotaram de imediato, como se eles já existissem em algum lugar, apenas a espera da coabitação acadêmica.

Agora será necessário inventar o futuro mais uma vez.

A surpresa e o sofrimento pela morte de uma pessoa boa e de um amigo querido vêm acompanhadas, para nós, seus colegas de UNICAMP, do desamparo produzido pelo abrupto desaparecimento de uma pessoa que era importante e mesmo central de muitas formas, seja em nosso cotidiano ou em nossos projetos de futuro. No departamento de Antropologia e, deste o final do ano passado, na direção do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, a sua presença proporcionava a tranquilidade que os contextos exasperados por disputas de todo tipo nos exigem.

À dor soma-se o sentimento de uma responsabilidade que parece nos ultrapassar.

Por fim, se sua produção acadêmica foi precipitadamente transformada em obra, pelos limites impostos injusta e arbitrariamente por sua morte, a sua memória inspira um sentido ético do trabalho intelectual que permanecerá em aberto, a nos inspirar.

jm arruti