domingo, 10 de fevereiro de 2013

Bola Preta: onde os fracos não tem vez

Abro o G1 nesta manhã carnavalesca buscando registros do dia de ontem e, em lugar de encontrar o tradicional ensaio fotográfico de um dos fenômenos mais impressionantes do carnaval carioca (como fez, de praxe, a Folha) encontro uma matéria policial: pessoas passando mal e carros da polícia depredados.
Isso é digno de stand up, mas indigno do nosso carnaval.
A polícia coloca os seus carros atravessados no meio da rua que deveria estar livre e desimpedida para a passagem deste alegre e monumental animal cujo corpo é formado por dois milhões de foliões, e ainda não quer arranhar a tinta das viaturas!
Desde o ano passado, quando a prefeitura inverteu o trajeto do cortejo, começaram os atropelos: agora o Bola concentra no espaço mais aberto (Candelária) e tem que dispersar no espaço mais apertado (Cinelândia).
Isso vai contra a fisiologia do monumental e alegre animal. Quando concentrava na Cinelândia, as pessoas iam chegando de metrô e se acomodando nos bares da região, enquanto pequenos grupos iam fazendo seus cercadinhos onde senhoras e senhores mais velhos e algumas crianças se alojavam em cadeiras trazidas de casa para ver o despertar do bicho-Bola, bebendo sua própria bebida e comendo sua própria comida. Quando o cortejo começava, boa parte desse povo não saía do lugar. O bicho-Bola se desprendia da Cinelândia deixando um pedaço de si (o pessoal do bloco parado), para ir crescendo de novo e ainda mais ao longo da Rio Branco, tornava-se uma massa indomável entre a Carioca e a Uruguaiana, mas depois que o primeiro carro chegava na Candelária, a multidão começava a se dispersar, desaguando nas nove pistas da Presidente Vargas.
Porque fazer com que o bicho-Bola ande ao contrário? Porque colocar carros de polícia (notem que não eram ambulâncias) atravessados na rua, no espaço em que a multidão mais fica apertada?
Quando a gente olha no conjunto o que o Estado e a Prefeitura estão fazendo com o Rio, com sua população e com tudo quanto é, de fato, popular, isso nem surpreende. É para por fim mesmo no carnaval que não tem cordão, ingresso, camarote.