sábado, 7 de dezembro de 2013

Observatório dos Conflitos Rurais no Estado de São Paulo

Acaba de ser aprovado pela PREAC - Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários da UNICAMP, o projeto de extensão Observatório dos Conflitos Rurais no Estado de São Paulo, proposto pelo CERES e composto pela equipe: Fernando Antônio Lourenço (Coordenador), José Mauricio Arruti (Co-coordenador), Gabriel Pereira da Silva Teixeira, Ellen Gallerani Corrêa, Rosemeire Salata, Cassius Marcelus Cruz, Tiago Rodrigues Santos, Aline Yuri Hasegawa, Leonardo Ferreira Reis, Pedro Vilas Boas.

Observatório dos Conflitos Rurais no Estado de São Paulo parte da constatação de que a configuração agrária/fundiária do estado de São Paulo coloca para os analistas e pesquisadores do mundo rural um cenário em que persiste uma diversidade de conflitos e violações de direitos, desde a utilização de força de trabalho sob condições análogas à escravidão, até a reprodução de relações políticas autoritárias e baseadas na predileção e no clientelismo.

Segundo dados oferecidos pelo Atlas da Questão Agrária (GIRARDI, 2008), em 2003, São Paulo era o estado da região Sudeste com a maior concentração fundiária, com um índice de Gini médio de 0,744, valor que indica uma concentração de terras média/forte. Souza (2013) mensura o mesmo índice em 0,900 para os anos recentes, indicando um aumento da concentração de terras para todo o estado. Os índices para todas as regiões do estado podem ser consultados na tabela abaixo.
Decorrem de tal concentração fundiária diversos embates pela manutenção e posse da terra, onde movimentos sociais de pequenos produtores, sem terras, quilombolas e assalariados despontam como atores relevantes. Não à toa, regiões como o Oeste Paulista são campeãs de conflitos envolvendo proprietários e não proprietários de terra (BOLETINS DATA LUTA, 2013).
Em termos produtivos, predominam no estado dinâmicas baseadas nas grandes propriedades modernas e tecnificadas, como nas culturas da laranja, da cana de açúcar e do algodão. Dados da Secretaria de Agricultura de São Paulo estimam que mais de 60% do solo ocupado no estado respondem à agropecuária, e que mais de 50% deste valor guarda relação com a agricultura patronal, moderna e tecnificada.

É neste campo de análises que situamos nossa proposta de pesquisa e extensão, buscando atentar para a diversidade de atores e projetos políticos em disputa nos espaços rurais do estado de São Paulo, contribuindo para a ampliação do conhecimento acerca das distintas formas de organização das populações rurais, das suas principais formas de mobilização e exercício político e, consequentemente, apontando as especificidades culturais e de identidade dos respectivos grupos sociais. Para tanto, o acompanhamento dos conflitos rurais figura como objeto privilegiado de pesquisa e investigação que permitirá desenvolver análises e reflexões sobre os sujeitos e as dinâmicas econômicas e políticas em andamento no âmbito estadual que ameaçam (e contrapõem) grupos sociais.

Serão prioritariamente investigadas e analisadas a partir da constituição do Observatório dos Conflitos Rurais no Estado de São Paulo:
1) às reconfigurações da colheita das culturas da cana de açúcar e da laranja na região da Alta Mogiana/Ribeirão Preto;
2) às comunidades tradicionais na região do Vale do Ribeira e
3) às pequenas propriedades na região do Oeste Paulista.

Os objetivos específicos da proposta podem ser organizados em 2 grandes eixos. O primeiro relaciona-se à problemática dos conflitos rurais e o segundo vincula-se à promoção da discussão sobre os conflitos rurais e a produção de subsídios que contribuam para a elaboração de estratégias públicas de intervenção nestas realidades.

No que diz respeito à problemática de pesquisa, o Observatório dos Conflitos Rurais no Estado de São Paulo pretende:
a) identificar os principais contextos de conflitos rurais no estado;
b) sistematizar os conflitos quanto a sua natureza, atores envolvidos e local de ocorrência, possibilitando maior compreensão do mundo rural na sua atualidade, suas dinâmicas sociais e as mudanças recentes;
c) mapear os sujeitos políticos: o que pensam, como agem e o que reivindicam;
d) como as instituições de representação política oficiais (sindicatos, Executivos, Judiciário) se comportam nestes contextos e
e) identificar as arenas de resolução de conflitos utilizadas pelos respectivos sujeitos (como audiências públicas, ocupações de propriedades, greves, processos no Judiciário etc.).

Sobre a promoção da discussão acerca dos conflitos e a produção de informações que sirvam como subsídios para a formulação de estratégias públicas de intervenção, o Observatório dos Conflitos Rurais no Estado de São Paulo tem como objetivos específicos:
a) ampliar e fortalecer a discussão acadêmica sobre os principais conflitos rurais no interior do estado de São Paulo;
b) dar visibilidade aos conflitos pesquisados no âmbito da academia, dos sindicatos, movimentos sociais e organizações da sociedade civil;
c) produzir e disponibilizar materiais, para consulta das entidades participantes do projeto e demais segmentos da sociedade, sobre as principais dinâmicas rurais conflitivas do estado, potencializando a atuação destas instituições na garantia de cumprimento dos direitos dos povos do campo;
d) estabelecer forte interlocução da Universidade, em especial do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), com as entidades participantes do projeto através do intercâmbio de informações e experiências.

Para garantir o cumprimento dos objetivos específicos pretendemos realizar:
a) a produção de um site que armazenará os dados produzidos (boletins periódicos, clippings/dossiês e sistematização das principais noticias locais/regionais sobre os conflitos rurais no interior paulista;
b) a elaboração de cartografias dos diversos conflitos, também a ser hospedada no referido site;
c) a realização de seminários com o objetivo de trazer os respectivos atores para discussões internas à universidade, publicizando seus pontos de vista e seus projetos para os espaços rurais paulistas;

d) a elaboração e distribuição de cartilhas para os diversos segmentos da sociedade civil (sindicatos, movimentos sociais e órgãos públicos) com sínteses dos principais dados produzidos ao longo das atividades de pesquisa do projeto.


Para ver o blog do projeto, clique aqui.

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